sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lição de felicidade

Foi num dia desses. Eram dois irmãos vindos da favela. Um deles deveria ter cinco anos
e o outro dez. Pés descalços, braços nus. Batiam de porta em porta, pedindo comida. Estavam famintos. Mas as portas não se abriam. A indiferença lhes atirava ao rosto expressões rudes, em que palavras como moleque, trabalho e filhos de ninguém se misturavam. Finalmente, em uma casa singela, uma senhora atenta lhes disse:
Vou ver se tenho alguma coisa para lhes dar. Coitadinhos.

E voltou com uma caixinha de leite. Que alegria!

Os garotos se sentaram na calçada. O menor disse para o irmão: Você é mais velho, tome primeiro. Estendeu a caixa e ficou olhando-o, com a boca semiaberta, mexendo a ponta da língua, parecendo sentir o gosto do líquido entre seus dentes brancos.

O menino de dez anos levou a caixa à boca, no gesto de beber. Mas, apertou fortemente
os lábios para que nenhuma gota do leite penetrasse. Depois, devolveu a caixinha ao irmãozinho: Agora é a sua vez. Só um pouco, recomendou.

O pequeno deu um grande gole e exclamou: Como está gostoso!

Agora eu, disse o mais velho. Tornou a levar a caixinha, já meio vazia, à boca e repetiu o gesto de beber, sem beber nada. Agora você. Agora eu. Agora você. Depois de quatro ou cinco goles, talvez seis, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, esgotou o leite todo. Sozinho.

Foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. O menino maior começou a cantar e
a jogar futebol com a caixinha. Estava radiante, todo felicidade. De estômago vazio.
De coração transbordando de alegria. Pulava com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas grandiosas sem dar importância. Observando aqueles dois irmãos e o Agora você, Agora eu, nossos olhos se encheram de lágrimas.

Que lição de felicidade! Que demonstração de altruísmo! O maior, em verdade, demonstrou, pelo seu gesto, que é sempre mais feliz aquele que dá do que aquele que recebe.

Este é o segredo do amor. Sacrificar-se a criatura com tal naturalidade, de forma tão discreta, que o amado nem possa agradecer pelo que está recebendo. Enquanto os dois irmãos desciam a rua, cantarolando, abraçados, em nossa mente vários ensinos de Jesus foram sendo recordados.

Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito.

Amai-vos uns aos outros...

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